Yin e Yang

De repente, assim num átimo, bateu-me um cansaço, um cansaço intenso, enorme, acumulado em anos e anos de desatino incalculado, inconsciente. De repente, num átimo, dei-me conta de um lado de mim, do qual nem me lembrava ou desconhecia, que me escapava há tanto, oprimido por um outro onipotente, onipresente, obsessor.

Não é que a ficha caiu assim, num instante qualquer. Não. Já havia a angústia, a sensação de perda, de falta, mas do que Jesus? De que?

Foi um cansaço primeiro de alma, depois do corpo e então veio o espelho. Aquele alguém que surge e em quem nos enxergamos. E mais outro e outro. Então o grito, o susto a dor e a alegria do reencontro com meu "eu" desaparecido.

- Mas espera ai! Se essa aí sou eu, então quem é essa outra que me domina há tanto tempo?

Não a reconhecia, não lembrava-me como veio, só sabia que me dominava há muito, tanto, que pensava que aquela era eu mesma, e que doía, virando a minha vida pelo avesso. Deu-me um abatimento pesado e louco, um ódio, num átimo.

Rejeição súbita. Tentei expulsá-la, lançá-la fora, extirpar essa outra da alma e do corpo, para dar lugar à outra, a filha pródiga que a ele voltava, a fugitiva que retornava ao lar. Mas a que dominava não ia, não cedia.

Adoeci, caíram cabelos, tive insônia, tive conflitos horríveis, nada que viesse de fora satisfazia. Pensei em me benzer, talvez um padre. A outra carecia de extrema unção.

Na realidade era preciso um casamento. Mas o noivo onde está?

- Aqui dentro de mim, o noivo e a noiva. Eu preciso casar minhas duas partes, minhas duas metades, o lado direito e o esquerdo e assim, preciso da benção de um padre, até que a morte nos separe.

Então pensei é melhor chamar um psicólogo do que um padre.

Será? Só a benção de Deus e o sim de ambas as partes, e está tudo resolvido, porque elas já concordaram.

E foi assim, num átimo, que os dois "eus" da Alayde casaram-se. Enfim sós, a paz enfim.

É claro que a rotina sempre vai trazer alguns desentendimentos, coisas de casal. Mas já estou fazendo planos para a chegada de um bebê. Um terceiro eu vai se formando. Já está em crescimento logo vai nascer e querer criar asas e ficar independente. Se for dominador como os pais, ai da Alayde, mais uns anos enlouquecendo por aí. Até bater um cansaço. E outro espelho. Mas já vou estar escolada, e nem precisarei de benção de padre, só aceitação. Ciclos da alma. Pura arte. E Deus abençoa, num átimo.

CONCLUSÃO: Coisas de Magali. Nenhum filho resolve assuntos de casamento.